Aposta mais do que lógica

O crescimento do varejo farmacêutico no Brasil aumenta o foco sobre a necessidade de investimentos ainda maiores no aperfeiçoamento do sistema de logística das empresas
 
 
Por si só, os problemas de infraestrutura já seriam mais do que suficientes para levantar enormes desafios à logística e à distribuição de produtos para o canal farma no Brasil. Apenas, um deles – percorrer um país de dimensões continentais como o nosso, com mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados por estradas sem qualidade para abastecer 65 mil farmácias –, vamos combinar, já seria suficientemente complicado. Mas, com 60% de tudo aquilo que é transportado no Brasil segue por rodovias (só para ter um comparativo, nos Estados Unidos, um país tão grande como o nosso, a dependência do modal rodoviário é de menos de 30%), muitos outros problemas, em escala titânica, se alinham a ele. Roubo de cargas, qualidade precária e falta de segurança nas estradas, margens operacionais extremamente reduzidas e o alto custo do quilômetro rodado, são apenas alguns, entre muitos outros.

Só que quando se fala em transporte de medicamentos e cosméticos, a questão se agrava. Isso porque os cuidados para a preservação do material a ser transportado precisam ser elevados a uma potência muito maior do que aqueles adotados com o transporte de outras mercadorias. Há, por exemplo, o risco de contaminação, a sensibilidade no manuseio, a temperatura dos baús dos caminhões, que precisa ser controlada, e, ainda, a questão da rastreabilidade, exigida pela legislação brasileira para os produtos farmacêuticos.

O setor de transporte de medicamentos e produtos farmacêuticos teve seu marco regulatório no ano 1998 com a publicação da Portaria 802/1988 (ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que institui o sistema de controle e fiscalização em toda a cadeia de produtos farmacêuticos. Este sistema abrange as etapas da produção, distribuição, transporte e dispensação. Para efetuar as adequações necessárias do cumprimento das Boas Práticas de Transporte, as distribuidoras contam com o auxílio do farmacêutico, que vem se destacando no mercado.

“A atuação diária do farmacêutico no transporte é de extrema importância como preconiza a Resolução 433/2005, do Conselho Federal de Farmácia. Entre as principais atribuições do profissional farmacêutico na transportadora estão zelar pelo cumprimento da legislação sanitária e demais legislações correlatas, permitir somente o transporte de produtos registrados e de empresas autorizadas junto ao órgão sanitário competente e, ainda, supervisionar e/ou definir a adequação da área física, instalações e procedimentos da empresa”, pontua Camila Ramos da Silva, farmacêutica responsável pela unidade de São Paulo da Ativa Logística.

Investir para competir
Seja como for, em função de diversos fatores – entre os quais o vencimento de patentes de medicamentos nos últimos anos, com a consequente queda de preço –, o setor farmacêutico está em alta no Brasil. Com isso, as empresas de logística têm se interessado pelo ramo. Segundo informa o jornal Valor Econômico, para mapear as oportunidades, a operadora logística alemã DHL pesquisou sobre o assunto em quatro países, entre eles, o Brasil. Por aqui, segundo o estudo da companhia, as oportunidades se multiplicam por causa do “complexo” ambiente regulatório, que tornaria mais interessante para os fabricantes entregarem os produtos diretamente a varejistas, sem passar por atacadistas e distribuidores.

Contudo, não é o que se vê na prática. Poucas empresas dos ramos de medicamentos e de cosméticos fazem vendas diretas aos seus clientes. E mesmo quando fazem, acabam terceirizando a distribuição. Tal comportamento continua a deixar as distribuidoras em situação de vantagem, confirguradas como grande força logística para ambos. E, como a logística do setor farmacêutico é um campo “minado” por particularidades – como, por exemplo, o trabalho com altos volumes e baixas margens de lucro, além de uma legislação tributária bastante complexa, que acarreta maiores custos operacionais para atender as exigências do Fisco –, elas aprenderam a se conduzir pelo caminho da eficiência de forma muito equilibrada, a fim de evitar perdas que, literalmente, podem ser fatais para sobrevivência no mercado.

Assim, para estruturar um sistema logístico eficiente, surge a necessidade de as distribuidoras injetarem, de maneira constante, recursos no seu modelo de negócios, sob a forma, de investimentos em tecnologia e automação, que permitem reduzir os custos das operações, conferindo-lhes maior agilidade, sem nunca, entretanto, comprometer a qualidade e a responsabilidade do manuseio. E elas estão fazendo isso, inclusive por meio de parcerias e alianças, visando a aumentar a flexibilidade e o tempo no sistema de distribuição.

Centros de Distribuição
Devido à grande competitividade que surgiu com a globalização dos mercados, muitas empresas passaram a evidenciar a ineficiência de seus processos, a perceber os altos custos de produção e os grandes desperdícios envolvidos na distribuição de seus produtos. Juntamente com a grande diversidade deles, os riscos de ruptura no atendimento por falta de produtos e o novo perfil do consumidor, se tornaram fatores que provocam grandes mudanças nas organizações e fazem com que as empresas revejam a sua estratégia competitiva.

Dentro desse contexto, os Centros de Distribuição se tornaram um grande fator de diferenciação competitiva na cadeia farma, tendo como principal objetivo agregar valor ao produto por meio da disponibilidade imediata, fazendo com que os prazos de entrega sejam diminuídos, as distâncias reduzidas, surgindo uma maior flexibilidade para atender às demandas do cliente de forma personalizada, dentro da velocidade exigida por ele e consequentemente reduzindo custos e desperdícios.
“Um Centro de Distribuição constitui um dos mais importantes e dinâmicos elos da cadeia de suprimentos, ele é um armazém, cuja missão consiste em gerenciar o fluxo de materiais e informações, consolidando estoques e processando pedidos para a distribuição física, podendo, ainda, manter o estoque necessário para controlar e equilibrar as variações entre o planejamento de produção e a demanda”, ensina Gerson Prando, professor do Curso de Logística da Fatec “Rubens Lara”, de Santos (SP).

Segundo o especialista, os Centros de Distribuição são projetados para colocar produtos em movimento, e não apenas para armazená-los. Assim, diferentemente de um armazém geral, essas instalações têm como finalidade gerenciar o fluxo de produtos e as informações associadas, de modo a contribuir para a redução de distâncias e a diminuição dos prazos de entrega.

Por fim, a implementação de um Centro de Distribuição pode contribuir positivamente em uma empresa como uma rede de farmácia, por exemplo, tornando-se um meio estratégico, pois com ele é possível atender mais rapidamente o cliente, aumentando assim o nível de serviço e garantindo sua fidelidade, coordenando o fluxo de mercadorias, proporcionando mais organização, agilidade e menos custos à empresa.
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