Para correr tudo bem

Para correr tudo bem
Há cuidados que são essenciais para o sucesso das operações logísticas. Planejamento, tecnologia bons parceiros e processos são fundamentais para isso     


Devido ao alto valor agregado de seus produtos, a indústria cosmética exige da operação de intralogística brasileira um cuidado especial, tanto no manuseio quanto no acondicionamento e transporte. As exigências para armazenamento e transporte dos produtos estão cada vez mais rígidas, já que este é um ramo em que os fluxos logísticos precisam ser diferenciados, a fim de atender à demanda e preservar o produto. Neste cenário em que cresce a busca por eficiência e economia de escala, o planejamento logístico e a ótima relação com os parceiros são fatores ainda mais estratégicos.

Na operação logística de cosméticos existem vários fatores que necessitam de cuidados especiais e atenção redobrada na contratação e parceiros para a realização de tal atividade. Manusear e transportar produtos sensíveis à temperatura com o controle da mesma, observar a data de validade, ter cuidado com a fragilidade, são apenas alguns deles. E há de se lembrar, ainda, de que existem particularidades técnicas, operacionais e de legislação, com licenças específicas que devem ser obtidas de modo a assegurar a prática correta no transporte tanto de insumos como produtos finais.

Os investimentos em operações logísticas estão basicamente divididos na tríade: desenvolvimento de processos robustos, no treinamento constante dos funcionários e na implementação de tecnologia. Com relação à movimentação e armazenagem, há de se atentar à fragilidade das embalagens, já no que se refere aos aspectos de controle da mercadoria, cabe um eficaz controle de estoque FEFO (first to expire first-out) ou FIFO (first-in first-out), de lotes, entre outros. E mais: dependendo da mercadoria, também é preciso controlar a temperatura e a umidade durante todo o processo. Em outras palavras, os controles sistêmicos e operacionais devem estar alinhados de modo a garantir a eficácia da operação logística em um ambiente de maior restrição de trânsito nos grandes centros e de aumentos consistentes de custos. Tudo isso somado, os próximos anos tendem a ser mais desafiadores para os prestadores de serviço que atuam nestes segmentos.

Como explica a diretora de Supply Chain da BDF-Nivea, Camila Pacheco, é muito importante o cuidado com a contratação de prestadores de serviço com as devidas licenças para a operação no segmento, aliado ao uso de muita tecnologia nas operações para diminuição do número de manuseios da carga até chegada ao cliente final. “Existem alguns temas recorrentes quando o assunto é logística, como as variações na demanda, que impactam significativamente a composição de tarifas e disponibilidade de recursos para a execução dos processos logísticos; e as dificuldades para a efetivação de entrega em função de ocorrências comerciais e operacionais.”

Para tornar as operações ainda mais competitivas, Camila defende a importância de cada vez mais incrementar a colaboração logística entre indústria e varejo, buscando ganhos de eficiência que contribuam para ambos os lados, tais como: compras otimizadas para a formação de carga (lastro, palete, veículo fechado) e facilitação do recebimento, diminuição de picos e “vales” de demanda e tratamento em conjunto de questões para a efetivação da entrega. “A colaboração entre clientes, prestadores de serviços e fornecedores é a tendência mais clara para aumentar a eficiência logística nos próximos anos”, acredita.

Essa maior integração entre os diferentes atores do processo é uma realidade cada vez mais presente no dia a dia das operações, ao menos no que concerne a operação logística propriamente dita Esse movimento tem sido facilitado pelo avanço da tecnologia de informação. Para Marcelo Patrus, presidente e diretor Comercial da Patrus Transportes, uma das maiores e mais respeitadas transportadoras de cargas fracionadas do mercado de cosméticos, a adoção da integração eletrônica de dados (processo conhecido pela sigla em inglês EDI), tem gerado uma revolução nas relações comerciais por toda a cadeia logística.

O empresário explica que no caso das operações que envolvem a indústria e grandes distribuidores ou varejistas, a interligação entre as duas partes via EDI é muito grande. Nesses casos, as entregas são feitas com agendamento prévio, o que demanda alta tecnologia de ambas as empresas. “A tecnologia nos ajuda muito nesse processo, porque a transferência eletrônica de dados é fundamental para manter a eficiência logística do processo”, explica ele.

Mas as trocas eletrônicas de dados já não são uma exclusividade das grandes companhias. Mesmo o médio e o pequeno varejo, que recebem pedidos muito menores, as vezes com menos de uma dúzia de caixas, têm se beneficiado da maior digitalização dos processos, inclusive no caso das notas fiscais.

Um grande diferencial da Patrus apontado por Marcelo é a baixa instantânea do pedido em tempo real, no ato da entrega. “Antes você só sabia se a carga tinha sido entregue no destino quando o caminhão voltava para a base, o que podia levar horas ou até dias. Com esse processo, é possível saber na hora e de forma eletrônica, quem recebeu a encomenda e quando ele recebeu. “Hoje, eu digo que informar é mais importante do que transportar. Transportar todo mundo transporta, mas prestar toda a informação de forma eletrônica e em tempo real, isso demanda investimentos e infraestrutura pesados do transportador”, conta Marcelo.

Na outra ponta, a troca eletrônica de dados também facilita a vida dos pequenos e médios varejistas, que tem condições de acompanhar  todo o rastreamento da sua encomenda a partir do momento em que ele recebe o arquivo XML emitido pela indústria até a chegada do pedido nele. “Isso facilita muito porque ajuda a minimizar problemas como pedidos e preços errados. O varejista tem condições de enxergar previamente se está tudo de acordo ou não.”, diz o presidente da Patrus, que explica que além das vantagens na operação de logística, os processos de EDI ajudam a criar um ambiente de negócios mais transparente, dando ao FISCO uma visão do que acontece em toda a cadeia: da emissão da NF até o recebimento do produto no varejo. “É uma grande vantagem para as empresas que atuam de maneira correta”, emenda Marcelo.

Boas parcerias
Na Johnson & Johnson, um ponto muito importante no sucesso das operações logísticas é ter parceiros transportadores qualificados, segundo o gerente de Customer Service & Delivery da empresa, Eduardo Teixeira. “Por este motivo, investimos muito na certificação e qualificação dos nossos transportadores”, diz. “Além disso, temos uma equipe multidisciplinar focada no acompanhamento do processo, de forma a atender no melhor prazo e no custo adequado.” Teixeira ainda aponta que a infraestrutura das estradas do País e o déficit de motoristas qualificados estão entre os maiores entraves do setor. “Temos visto, em vários transportadores, equipamentos parados sem mão de obra e isso é um problema muito sério para todos, tanto para transportadores como para embarcadores”, completa.

A logística eficaz, assertiva, é uma questão estratégica para qualquer indústria e exerce um papel cada vez mais importante, como um diferencial competitivo. Atualmente, a Johnson & Johnson possui uma operação integrada, em que traz materiais para a indústria ao mesmo tempo em que já coleta produtos acabados para abastecer os seus Centros de Distribuição, o chamado “milk run”. “Esse sincronismo traz uma maior eficiência na cadeia, custos competitivos de fretes e, consequentemente, a diminuição de veículos ociosos nas rodovias, reduzindo, consideravelmente, a emissão de CO2”, defende Teixeira.

O gerente da J&J explica que o risco envolvido no processo é alto, uma vez que o valor agregado dos produtos e dos insumos movimentados e o tipo de transporte em si, exigem do transportador licenças específicas, bem como motoristas aptos para o tipo de carga. “Para isso, temos uma área específica na Johnson & Johnson chamada ‘Delivery’, que é voltada para a Gestão dos Transportadores e Serviços Logísticos. Essa área é suportada pelas áreas de segurança logística, qualidade e proteção de marcas, com objetivo de minimizar os riscos na operação.”

Ainda que haja uma concentração quase que absoluta dos fornecedores de embalagens e matérias-primas para a indústria cosmética em São Paulo, com alguns poucos fornecedores no Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina, Teixeira acredita que o fato não seja um complicador. Para essas regiões onde a empresa possui um número limitado de fornecedores é realizado um trabalho específico a fim de otimizar as entregas a clientes na região, com a coleta casada, buscando a sinergia operacional entre o inbound e outbound. “Diante de cenários cada vez mais desafiadores, acreditamos muito no frete colaborativo entre as empresas e também na necessidade de sistemas de informações cada vez mais ágeis, de fácil acesso e que nos possibilite acessar as informações de qualquer lugar (caso do armazenamento de dados na nuvem). Isso será um diferencial importante para tomada de decisões”, situa.

O papel dos fornecedores
Os fabricantes de cosméticos estão cada vez mais operando com níveis de estoques menores. Isso aumenta e muito a demanda por serviços rápidos e com qualidade, sem perder de vista o custo, que deve ser competitivo. Mas, com as restrições de circulação de caminhões dentro e fora das grandes cidades ampliando-se cada vez mais, fazer as entregas no tempo certo é cada vez mais desafiador.

“Hoje a logística integrada é importante, mas ela depende de um planejamento estratégico logístico muito bom, para que não se torne um processo caro e dispendioso. Precisamos sempre procurar otimizar as entregas, independente do tipo de operação”, explica o gerente de Qualidade & Logística, da Univar, fornecedora de insumos químicos para as indústrias de cosméticos, Thiago Hinuy. “A opção ‘milk run’ pode atender a determinados mercados, mas não é uma solução única, já que trabalhamos com diversos mercados e cada um com suas restrições e particularidades”, observa ele. A Univar utiliza o retorno de “carros” destinados à distribuição para a coletas de produtos nos seus fornecedores, quando eles estão dentro da rota. “Isso nos traz uma eficiência maior e um custo menor. Mas para isso é muito importante a sinergia entre os processos, pois este tipo de operação depende de outros, como por exemplo o departamento de compras”, contextualiza.

Para a Univar, o grande desafio está em procurar por transportadoras capacitadas e licenciadas para transportar os diversos tipos de produtos, pois dessa forma, os principais riscos podem ser mitigados, como no caso de acidentes, em que o embarcador é solidário em relação ao risco; e de não cumprimento de prazo e falta de qualidade, o que acarreta no risco maior que é deixar o cliente insatisfeito. “Em termos de custos, o processo logístico pode representar no preço final dos produtos, dependendo das especificidades de cada cliente, valor e volume do pedido, algo entre 2 e 7% do total movimentado”, ressalta Hinuy.

A gerente de produto e satisfação da Univar, Roseli Xavier de Santana, complementa e acredita que as tendências em operações logísticas para os próximos anos estejam voltadas para a prática sustentável das operações. “Cada vez mais as empresas buscam sustentabilidade em seus processos e na logística não vai ser diferente. É fácil observar investimentos em inovações tecnológicas visando a diminuição do consumo de recursos, como otimização de rotas para redução de combustível, utilização materiais reciclados, etc.”, coloca. A Univar lançou um programa de logística reversa que é, de acordo com a empresa, inédito no segmento de distribuição de produtos químicos. “Estamos desenvolvendo um programa que seja sustentável, no que diz respeito a reutilização de recursos e que não onere monetariamente para empresa, além de satisfazer os clientes que não precisarão mais arcar com os custos de incineração destes recursos”, conclui.

Outra empresa com forte atuação no segmento de cosméticos é a distribuidora de produtos químicos Química Anastacio. “Considerando que todas as empresas que nos prestam serviços de transporte atendem à legislação vigente para transportar produtos químicos, o maior risco acaba sendo o atraso na coleta ou na entrega, uma vez que parte dos clientes trabalha com agendamentos previamente acordados e com estoques relativamente baixos de insumos, por isso trabalhamos com um acompanhamento muito próximo do pós-vendas e com procedimentos e ferramentas de controle operacional robustos para a mitigação de riscos”, alerta o gerente estratégico de vendas & marketing da empresa, Rodrigo D’Amaro.

Com filiais em São Paulo (SP), Itajaí (SC) e Suape (PE), a empresa acredita ser este um diferencial para a otimização e redução de custos para a operação, para os seus clientes. “Pensamos que a logística ideal está totalmente relacionada à demanda de cada cliente, ou seja, cliente e fornecedor devem estar bastante alinhados, ter uma comunicação clara e objetiva para que os resultados da operação sejam positivos e estar localizada em pontos estratégicos para assegurar uma melhor capilaridade”, complementa o executivo.

O papel dos operadores logísticos e transportadoras acaba se resumindo a um forte componente no desenvolvimento de soluções que atendam aos diferentes modelos de negócio de cada cliente. “Para nós, a operação logística é um elemento decisivo de competição empresarial, bem como a qualidade do serviço de entrega dos produtos que é outro diferencial que agrega valor às marcas”, finaliza Clovis Gil, presidente da Ativa Logística, que presta serviços para empresas do segmento de higiene e beleza.
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