O novo paradigma da sustentabilidade

Muito se tem falado sobre sustentabilidade e/ou sobre responsabilidade social corporativa ultimamente, como um caminho para minimizar, ou quem sabe, reverter o processo de destruição no qual nos metemos. No entanto, parafraseando Einstein, um problema não pode ser solucionado pela mesma mente que o criou. Portanto, se não olharmos com profundidade qual foi essa nossa mentalidade a partir da qual nos tornamos insustentáveis como seres humanos, e transformá-la, todo esforço terá sido em vão.

Há alguns séculos, nosso comportamento tem se baseado nos conceitos da ciência materialista, segundo a qual acredita-se que em qualquer sistema complexo o comportamento do todo pode ser analisado em termos das propriedades de suas partes, reforçando um pressuposto de separatividade. Mente separada de corpo, separado de alma. Homem separado da natureza.

Esse paradigma pautou, durante muitos e muitos anos, várias esferas de nossa vida - a educação separada em matérias hipoteticamente independentes, a medicina, que trata os órgãos como se fossem independentes, as organizações departamentalizadas com a busca de sucesso individualizado de cada célula, a ciência, que separa o cientista do resultado da ciência.

De maneira geral, esses paradigmas afetam a realidade organizacional/empresarial da mesma forma. Modelos materialistas e cartesianos de pensamento têm suportado as estratégias organizacionais desde a sua existência, resultando em gestão baseado em excessos de controle, autoritarismo, vitimização e culpabilização (alguém sempre é o culpado - o fornecedor, o outro departamento, a economia, a política, etc). Nesse contexto, as organizações tem sido palco para a não aceitação das diferenças, para castração de processos criativos, de competição e o individualismo, da cisão entre sentimentos e razão no ambiente de trabalho, de doenças, e, obviamente, de um desrespeito pelos processos inerentes aos seres humanos e à natureza de forma geral. Tornaram-se insustentáveis.

É nessa realidade que surge a busca pela sustentabilidade organizacional ou Responsabilidade Social Corporativa. Uma tentativa de se remodelar a gestão de forma a tornar o ambiente corporativo menos destrutivo ao meio ambiente e à sociedade. Primeiro surge como um movimento de reparação ou expiação da culpa, por meio de ações ambientais e investimentos sociais diversos. Hoje, já se fala em gestão. Departamentos ou diretorias de sustentabilidade, comitês, códigos de conduta, métricas, indicadores de gestão, toda a sorte de ferramentas que visem a inserção da sustentabilidade na estratégia das empresas ainda replicam e são fruto dos mesmos modelos mentais que criaram um organização insustentável. Estão presentes a competição, a exclusão, a manipulação, o individualismo, o autoritarismo, a vaidade. Esse passo, essa busca foi e ainda é imprescindível e necessária, sem dúvida. Mas não consistente o suficiente para que ocorra de fato uma transformação. Os pilares da insustentabilidade ainda estão intactos.

O caminho da evolução nos é mostrado pela própria ciência e filosofia, que hoje, conjuntamente já percebem e nos apontam a interconexão das disciplinas, a não separatividade do indivíduo e do todo; a relação entre o cientista e o resultado da pesquisa. Pensamentos que nos mostram que a complexidade da natureza não pode ser compreendida por meio de uma visão simplista, que não funcionamos linearmente como querem acreditar alguns economistas, que não somos um conjunto de órgãos, como querem acreditar alguns médicos. Somos sim sistemas complexos cujo funcionamento se dá pela interação entre as partes e não pela soma das mesmas.

Por essa nova óptica, sustentabilidade relaciona-se com auto-questionamento, auto-responsabilidade, entendimento e valorização da interconexão entre as várias partes, e que se somos partes do todo, somos todos responsáveis pelo todo. Um descortinamento da realidade que permita que nos vejamos como parte integrante da natureza e não externos à ela. É apenas com essa mudança de mentalidade que seremos capazes de criar novos modelos de atuação, agora baseados na observação de que a mente não é algo separado da natureza, está (é) a natureza (Ervin Laszlo) e que os sistemas não podem ser compreendidos por meio de uma análise das partes isoladas, mas sim dentro do contexto do todo maior.

A sustentabilidade, em nosso ver, está intimamente ligada ao desenvolvimento de uma visão sistêmica, que integra e inclui. Que entende que os processos muitas vezes já são resultados em si e que devem ser construídos a partir das relações e interações, de forma que se aproxime cada vez mais do bem comum. Num contexto no qual cada parte é inseparável do todo, então a única solução sustentável é àquela que contemple o benefício de todos e não apenas de uma maioria. Estamos certamente caminhando nesse sentido. Esta será a nova era da busca pela sustentabilidade do planeta e da nossa espécie, no que concerne às organizações empresariais. O novo paradigma da sustentabilidade.

** Cibele Salviatto é sócia da consultoria Atitude – Gerando Resultado Sustentável (www.atitude.srv.br).

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