Os cheiros da temporada

Flores, frutas, orientais, amadeirados... Bebendo nas mesmas fontes de inspiração, a indústria de perfumaria no Brasil e no mundo pode continuar contando com o trabalho das casas de fragrância, para reinventar a roda e imprimir coerência olfativa às suas criações.

Quais os caminhos olfativos e os apelos de marketing que devem dominar o mercado brasileiro em 2010 em termos de fine fragrances? A pergunta foi feita pela revista Atualidade Cosmética a alguns dos principais especialistas de casas de fragrância instaladas no Brasil.

“Para Fine Fragrance, sabemos que a sensualidade e seus diferentes tipos serão tendência para este ano. A transparência como uma nova sensualidade, o romance, temas exóticos, novas culturas, destinos, e fantasia estarão em evidência nos conceitos de nossos clientes nacionais, internacionais. Olfativamente teremos os florais florais, florais frutais, florais orientais, florais opulentos e madeiras sofisticadas, trazendo mais requinte para a perfumaria”, afirma Marilidia Haefeli, diretora do Centro Criativo para America Latina da Givaudan.

Luciana Knobel, diretora de avaliação de fragrâncias para America Latina da mesma Givaudan, dá mais alguns detalhes acerca da questão: “Para o mercado feminino, acreditamos que as fragrâncias florais serão tendência até o final de 2010, desde as que ressaltam flores específicas até os bouquets florais modernos mesclados com notas amadeiradas de fundo. Os florais frutais seguem tendo sucesso para produtos destinados ao público jovem e ao uso diário”, diz. Nos perfumes para os homens, Luciana acredita que as notas amadeiradas serão tendência, principalmente para assegurar uma assinatura masculina quando contrastadas com notas frias de saída (acordes aromáticos, marinhos) ou associadas a notas orientais ambaradas de fundo conotando sensualidade.

Twists favoráveis
Quando o assunto são fragrâncias para a perfumaria fina, a opinião de Fátima Albino, diretora da Belmay, têm muitos pontos de congruência à de sua colega da Givaudan. “Para as composições femininas, o mix de frutas doces irresistíveis associadas às flores exóticas, chipres elegantes e os orientais gourmand extremamente criativos e provocantes irão predominar. Já nas composições masculinas, as notas sensuais doces orientais estarão em alta, assim como os cítricos marinhos florais e combinações amadeiradas sofisticadas e também a modernização dos clássicos estarão em evidência”, projeta.

Os chipres e os florais, reinventados expressamente em perfumes sofisticados com flores brancas e acordes frutais – incluindo aqueles combinados a florais, com novos blends –, também aparecem como combustíveis das top trends na lista da Symrise. Ivone Frias, gerente de avaliação da empresa agrega a esses caminhos olfativos alguns apelos de marketing, que, acredita, vão aparecer como constantes nas criações daqui até dezembro. “De um lado, temos a luxúria e a opulência, provenientes do processo de sofisticação do mercado, por meio da tendência dos orientais e florais amadeirados. E, de outro, temos o conceito de Super Addiction, focado na importância da fruta, além das novas edible notes, pertencentes às famílias frutais e gourmands”, avalia a executiva, que também acredita que, nas outras mãos, os perfumes masculinos devem seguir firme bebendo na fonte dos fougère ambarados, dos aromáticos e amadeirados e das famílias amadeiradas com twist de notas ambaradas.

Revisitar épocas nostálgicas na perfumaria também continua na moda. Os fabricantes pedem e as casas de fragrância, sem cerimônia, atendem agregando a essas soluções alguns toques atualizados de modernidade. Segundo Magali Lara, que atua como perfumista na mesma Symrise, isso vai acontecer muito na perfumaria feminina. “A ideia é a volta aos anos 80, com florais revisitados. Mas, é claro, também se seguirá as tendências das notas frutais com outras combinações inovadoras. Para os masculinos, as notas ‘energéticas’, as novas madeiras, as notas âmbar e, ainda, os novos acordes sensuais, como o âmbar-musk-especiarias, deverão estar presentes como nunca nas criações”, aposta.

Releituras obrigatórias
Consultado sobre o “cheiro do futuro”, Cleber Bozzi, perfumista da Takasago, opta por transmitir sua opinião olfativa por meio de exemplos bem concretos: “As fragrâncias femininas como L’Eau D’Issey Eau de Bois e She Wood Crystal Creek Wood da Dsquared² apontam para uma ênfase em famílias amadeiradas com toques de notas florais. Igualmente, fragrâncias masculinas como Prada Infusion Vetiver e Artisan Black de John Varvatos têm uma inspiração em notas mais amadeiradas mais secas e aromáticas”, pondera.

Assim como seu colega de empresa, Márcia Santana, gerente comercial da Takasago, ilustra os caminhos da perfumaria por meio de arquétipos de fragrâncias já presentes no mercado, cujo sucesso serve de justificativa para as tendências. “Deveremos assistir a continuidade das ideias de safras (Ekos Açaí, por exemplo), da de coleções Celebrare, Secrets e Acqua, O Boticário, e L’Infusion, da Água de Cheiro. Além dessas propostas, teremos muitas fragrâncias de celebridades e, ainda, lançamentos simultâneos, mas que não são duplas feminino-masculino, tais como Secrets Rose e Black, do O Boticário, que são ambas femininas, e Águas de Natura Lavanda Refrescante e Sensual, as duas criadas para o Dia das Mães”, exemplifica.

Na opinião de Márcia, a família oriental efetivamente se estabelecerá como uma peça-chave na identidade olfativa brasileira, com diversos lançamentos, uma vez que já aparecem como subfamília para fragrâncias femininas florais (Glamour Secrets Rose e Humor 5), Frutais (Egeo Kiss Me) e Gourmands, este último com destaque para notas lactônicas (Myriad Celebrare), ambaradas (Sitar) e de café (Coffee). “Vale dizer que a tradicional família floral tem na subfamília frutal um porto seguro para as fragrâncias, como acontece com Astree, Seducce, Wish of Love e Thaty Kiss”, complementa.

E os perfumes masculinos? Na opinião da gerente comercial da Takasago, as tendências chegam ao mercado plasmadas em lançamentos diluídos nas famílias cítricas e amadeiradas, nas quais sempre se concentraram, entretanto, passam a ser fortemente acompanhados por orientais, com ênfase em madeiras e no âmbar. Para a executiva da multinacional japonesa das fragrâncias, Barolo, Coffee Man, Dimitri Redvolution e Absynthe são exemplos claros que ilustram essa dinâmica.

Ícones de inspiração
A já citada inspiração oriental também surge como diretriz na avaliação de Eurico Mazzini, perfumista sênior do Centro Criativo da DROM Brasil. Contudo, a releitura (sempre ela) se fará sentir na intensidade das fragrâncias que serão lançadas pelos fabricantes nacionais e internacionais até dezembro de 2010. “Os orientais serão, provavelmente, um pouco mais leves e com muito mais madeiras. Os perfumes frutados também deverão continuar muito presentes. Ou seja, creio que estamos vivendo um período no qual se segue mais as marcas que as tendências”, define muito bem.

Quem compartilha a mesma visão, no que diz respeito à tendência de “suavização” de algumas famílias, é Emília Kogempa, perfumista da Citratus. Só que esse processo deverá, segundo a especialista, ser mais sentido nas famílias “povoadas” por acordes cítricos, frescos com acordes frutais e aromáticos: “Essas notas continuam em 2010”, sinaliza. Como ícones inpiradores de tendências, Emília cita o Omnia Green Jade, de Bvlgari, o Boss Orange, de Hugo Boss, e o Coffee Woman, O Boticário. “As duas primeiras são fragrâncias charmosas, inovadoras e ao mesmo tempo elegantes. Já a terceira, além de muito criativa, conseguiu unir modernidade, frescor e sofisticação em uma única fragrância”, destaca.

Fragrâncias de alto giro
Como se sabe, nem só de fine fragrances vive o mercado. Assim, quais as tendências que deverão inspirar as Consumer Fragrances, que farão a perfumação dos produtos de massa, como sabonetes – líquidos ou em barra –, shampoos, condicionadores, hidratantes corporais e, ainda, shower-géis e outros produtos para banho? Marilidia Haefeli, diretora do Centro Criativo para America Latina da Givaudan, dá algumas pistas: “A prevalência girará em torno dos apelos hedônicos/experienciais, transmitidos às consumidoras por meio de fragrâncias modernas e sofisticadas, aliadas a conceitos como lugares exóticos, a feminilidade e, sensações como relaxamento ou energia, buscando adicionar prazer ao universo da beleza e cuidado pessoal”, define. Para a executiva da múlti, esta última tendência, aliás, vem evoluindo ao longo dos últimos anos. “E nela temos a Natureza/Meio ambiente como foco, seja através de ingredientes naturais, políticas de sustentabilidade, fragrâncias que transmitam frescor do contato com a natureza (como o cheiro da grama molhada ou um banho de chuva) ou nos transportem de volta ás nossas raízes, através de perfumes singulares e naturais como a lavanda, a camomila”, pontua. Utilizando como exemplo produtos que já estão no mercado, Márcia Santana, gerente comercial da Takasago, cita as fragrâncias do Dove Cream Oil, da Unilever, e o Éh Hidratante Orgânico para o Banho, da Hypermarcas, como benchmark para novas criações da indústria. “Além desses cheiros, entre os ingredientes que começam a tomar força em 2010 estão a romã e a manga, qua aparecem na linha Avon Naturals, bem como as frutas brasileiras, presentes na linha Segredos de Beleza do Brasil, do O Boticário, ressalta.

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